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São João Maria Vianney, o Cura D’Ars
Créditos foto: Reprodução/Internet Full Width Post Format
“Porque pregas de modo tão simplório? Fazes papel de ignorante. Por que não pregas a lo grande como nas cidades? Ah! Como me deleito com estes grandes sermões que não incomodam a ninguém, que deixam as pessoas viverem a seu modo, fazendo o que querem!”1. Este foi o elogio que recebeu São João Maria Vianney de uma possessa. Com efeito, sem se incomodar por isto, este santo era tido, por muitos, como sendo falho de inteligência; entretanto, mal sabiam os doutos de sua época que em realidade este varão foi um grande sábio...
De fato, nestes tempos, a etiqueta consistia em fazer sermões baseados em Chateaubriand ou em Lacordaire, tentar imitar a Bossuet, enfim, primar mais por floreios retóricos e por um estilo academista, do que tentar atingir o fundo da alma dos fiéis tendo em vista sua conversão.
Deus, porém, jamais abandona seu povo. Assim, neste período de progresso científico, que foi o século XIX..., a Sabedoria Divina suscita um varão que em sua simplicidade arrebata as almas, voltando seus olhos para ... a ciência da Cruz.
Ao lermos um texto, ou ouvirmos um discurso, esperamos de nosso autor ... não só o dom, mas sua genialidade. Contudo, há algo ainda mais sublime do que a conjugação de dom e genialidade: é quando constatamos que nosso autor é inspirado. Com efeito, o que nos é mais leve e agradável do que ler as Sagradas Escrituras? Entretanto, não será simples seu estilo?
O mesmo se dava com o Cura de Ars que, obtuso aos olhos do mundo, tornava-se sutil e penetrante com seus exemplos, e maravilhava seu auditório, convidando-o assim à sincera conversão: “Meus filhos, se vós vísseis um homem erigir uma grande fogueira, amontoar galhos uns sobre os outros, e, perguntando-lhe o que está fazendo, ele vos responde: ‘Estou preparando o fogo que me deve queimar’, o que pensaríeis? E se vísseis este mesmo homem aproximar uma chama dos galhos, e, quando acesa a fogueira, se jogar dentro… o que diríeis? Cometendo o pecado é assim que nós procedemos. Não é Deus que nos precipita no inferno, somos nós que nos jogamos…”
Não é de se reconhecer nisto uma profunda sabedoria? Não são palavras penetrantes e inspiradas? Não demonstra este santo um grande conhecimento de Deus? Com efeito, o grande Santo Tomás de Aquino ... nos define: “Sábio, absolutamente falando, é aquele que conhece a causa altíssima absoluta, isto é, Deus. Por isso, o conhecimento das coisas divinas chama-se sabedoria. O conhecimento, porém, das coisas humanas chama-se ciência.2”. Tal definição é a própria imagem deste humilde pároco de Ars.
Desta forma, entendemos melhor as palavras de Jesus: “Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.” (Lc 10, 21).
[1] Cf. SAINT PIERRE, 1963, p 192.
[2] II-II Q. 9, a. 2


Autor: Michel Six Fonte: Revista Integra~]ao Diocesa. Ago/20419. Ano 44 - nº448