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O sujeito da ação eucarística é a comunidade eclesial
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“As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o ‘sacramento da unidade’, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos bispos. Por isso, as celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, e o manifestam e afetam...” (SC 26). 
“Deseja ardentemente a mãe Igreja que todos os fiéis sejam levados àquela plena, cônscia, e ativa participação que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, ‘geração escolhida, sacerdócio real, gente santa, povo de conquista’ (1Pd 2,9; cf. 2,4-5), tem direito e obrigação.” (SC 14)
Quem celebra a eucaristia é a comunidade eclesial. A base está na participação no sacerdócio de Cristo pelo sacramento do batismo. Nele somos um povo sacerdotal. Para São Paulo, a comunidade eclesial é o Corpo de Cristo, unida a ele, que é a Cabeça deste “corpo”, na unidade do Espírito Santo. E é celebrando a eucaristia, “sacramento da unidade”, que se expressa e se aperfeiçoa o ser da Igreja. 
Até o Concílio Vaticano II, o padre celebrava a missa para o povo; o povo assistia, recolhido em suas devoções particulares. À luz do Concílio, o padre serve a um povo, todo ele sacerdotal; preside uma assembleia celebrante. Seu sacerdócio não está acima do sacerdócio da comunidade, mas a serviço do mesmo. O sacerdócio dos batizados não se origina do sacerdócio ministerial; ambos derivam do mesmo e único sacerdócio de Jesus Cristo. 
Por isso, todo o povo sacerdotal, unido a Cristo, no Espírito Santo, realiza a celebração do memorial, alimentando-se da Palavra de Deus, orando em comunidade, dando graças, oferecendo o sacrifício de louvor, comungando da mesa do Senhor... 
A SC 48 insiste: “...aprendam a oferecer-se a si próprios oferecendo a hóstia imaculado [o próprio Cristo], não só pelas mãos do sacerdote, mas juntamente com ele...”
A assembleia é hierarquicamente constituída: além dos ministros ordenados que presidem a eucaristia, há os leitores, cantores, instrumentistas, acólitos... todos são agora considerados ministérios litúrgicos a serviço da assembleia (SC 29). Cada qual assume sua função específica, como as várias partes num corpo humano (SC 28).
A palavra-chave da SC é “participação” de todo o povo na liturgia. Entendido em sentido teológico, participação é comunhão em Cristo, participação em sua missão messiânica, em sua morte e ressurreição, em sua relação com o Pai, no Espírito Santo, e isso pela participação nos sinais sensíveis, pela participação nas ações rituais. Para que seja um ato verdadeiramente humano, essa participação há de ser também “consciente”. Daí a necessidade de formação litúrgica de todo o povo de Deus,  para que não assistam como estranhos ou espectadores mudos... (Cf. SC 47), mas como agentes, sujeitos da ação eucarística. 
 
Mudanças na maneira de celebrar a Eucaristia 
Além do presidente, a assembleia eucarística conta com o ministério de leitores, acólitos, cantores, instrumentistas, equipe de acolhimento...
Os ritos iniciais são reformulados em vista de sua nova função: constituir a assembleia litúrgica, formar o ‘corpo comunitário’ celebrante; o rito penitencial deixa seu caráter devocional e se torna um rito comunitário.
As oferendas são trazidas pelo povo ou membros do mesmo.
A oração eucarística é proclamada pelo presidente em voz alta para o povo participar. O povo intervém com as respostas e aclamações. O ‘Amém’ final da oração eucarística ganha destaque, como ratificação da oração presidencial.
Na oração eucarística, há uma “epíclese de comunhão”, invocando a vinda do Espírito Santo sobre a comunidade reunida, para que se torne sempre mais corpo de Cristo, ao participar da mesa do Senhor. “E nós vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos pelo Espírito Santo num só corpo” (Prece eucarística, II).
É reintroduzido o abraço da paz e a fração do pão, expressando a relação que existe entre o Corpo de Cristo que se recebe no pão e no vinho e o Corpo de Cristo que é a comunidade eclesial. Em 1Co 10,16-17, Paulo estabelece a relação entre o comer juntos o pão partido e a unidade da comunidade como corpo de Cristo; inclui nesta relação também o cálice de bênção: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão.”
A comunhão é uma ação comunitária: todos caminham em procissão, cantando juntos, expressando sua comum-união em Cristo; continuam cantando, inclusive depois de ter recebido o pão e o vinho consagrados. 

Autor: Marcelo Sivinski