“Que devo fazer para ganhar a vida eterna?”
"Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se
diante dele, e perguntou: 'Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida
eterna?'"
Um homem rico procura o caminho que conduz à
vida eterna. Ele interroga Jesus com sinceridade. Está à procura da salvação.
Jesus estava caminhando com seus discípulos. Era também um caminho espiritual durante
o qual Jesus vai aprofundando sua catequese sobre as exigências do Reino. Diante
da interrogação e do diálogo com o homem rico, que não consegue se desapegar
dos bens, Jesus não perde a oportunidade para avisar os discípulos acerca da
incompatibilidade entre o Reino e o apego à riqueza.
Na perspectiva dos teólogos de Israel, as
riquezas são uma bênção de Deus. Contudo, uma vertente já alertava sobre o
perigo das riquezas. Isso podia endurecer o coração e tornar a pessoa orgulhosa,
insensível e auto-suficiente, afastando-a assim de Deus (“se tenho muitos bens,
por que preciso de Deus?”). Jesus retoma essa mensagem, orientando-a na
perspectiva do Reino.
A vivência dos mandamentos tradicionais é um primeiro
patamar no caminho à vida eterna. Porém, para entrar
plenamente no Reino é preciso mais do que observar leis ou regras. Jesus
reconhece a sinceridade, a honestidade, a verdade da busca deste homem; por
isso, olha para ele com simpatia, com amor e resolve desafiá-lo a subir a um
outro patamar: convida-o a integrar a comunidade do Reino.
Ora, esse novo patamar
tem um outro grau de exigência. Jesus aponta três requisitos fundamentais:
1. Não
centrar a vida nos bens passageiros deste mundo; é uma falsa segurança.
2. Procurar
outro tesouro: a partilha, a doação e a solidariedade para com os necessitados;
3. Seguir
a Jesus, a exemplo dos apóstolos: “Eis que deixamos tudo e te seguimos”.
Apesar de toda boa vontade, o homem não estava
preparado para esse caminho novo. Permanece fechado em si e preso à lógica do
“ter”. Isso não o faz feliz (“foi embora cheio de tristeza”). Para ser feliz é
preciso fazer outros felizes. Ele representa todos os que são incapazes de
renunciar aos bens passageiros – ao dinheiro, ao sucesso, ao prestígio, às
honras, aos privilégios, a tudo o que prende a pessoa e a impede de dar-se aos
irmãos.
“Mas isto é possível?”, perguntam os
discípulos. Jesus responde que sim, desde que se esteja disponível para escutar
a Deus e deixar-se conduzir por Ele. Mas é impossível aos que só confiam em si
e são possuídos pelos bens.
Escolher com liberdade o caminho do seguimento
e do despojamento não é um caminho de perda, de solidão, de morte, mas de ganho,
de comunhão, de vida. E Jesus acrescenta: Isso garantirá uma vida cheia e feliz
nesta terra e, no mundo futuro, a vida eterna.
Autor: Pe. Roni Osvaldo Fengler