“Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos
homens”
Todas as nossas instituições prescrevem regras, leis,
preceitos a serem cumpridos por seus membros. Isso é necessário para que elas
possam funcionar bem. Contudo, mais cedo ou mais tarde, é normal que certas
normas comecem a provocar discussões. Há aqueles que não as cumprem e aqueles
que as defendem com toda garra. É necessário que de vez em quando esse conjunto
de regras seja revisto para melhor se adequar aos novos tempos e aos novos desafios.
E isso só funciona bem quando não se perde de vista o essencial: o objetivo
central para o qual a instituição foi criada.
Depois de vários domingos retornamos ao Evangelho
de Marcos. Hoje ele nos apresenta um grupo de escribas e fariseus discutindo
com Jesus sobre o sistema judaico do puro e do impuro. Como sempre, Jesus
aproveita a ocasião para ensinar seu povo. Ele apresenta uma nova forma de
moralidade, baseada na reta consciência e na fidelidade à vontade de Deus.
”O que vem de fora e entra numa pessoa, não a torna impura; as coisas
que saem de dentro da pessoa é que a tornam impura... Pois é de dentro do
coração das pessoas que saem as más intenções, como a imoralidade, roubos,
crimes, adultérios, ambições desmedidas...”
O que vem de fora não nos torna maus, e sim o que
sai do nosso interior, isto é, da nossa consciência, pois é ela a fonte que cria
os projetos e dá direção às coisas. Podemos até ter o corpo bem limpo
externamente – o que é bom e necessário –, mas se o coração está sujo, as obras
serão más e iremos nos afastando de Deus.
Lendo todo o texto e seu contexto, vemos que
Jesus desmascara uma prática de leis apresentadas como divinas, mas que
colocava a verdadeira vontade de Deus em segundo plano. No fundo, eram mais
normas humanas que divinas. Assim, Jesus não veio abolir a Lei. Ele respeita a
Lei de Moisés, mas a vai melhorando. Ele a purifica de certas influências superficiais
e nefastas para torná-la mais de acordo com a vontade de Deus, que é o
verdadeiro bem do ser humano. As normas não devem sufocar a misericórdia.
Em nossa prática religiosa somos também seguidamente
confrontados com este tema. Que Deus nos dê a sabedoria divina e a liberdade
responsável para encontrar o justo balanço entre “direitos e deveres”, buscando
sempre discernir a verdadeira vontade de Deus em nossas decisões e ações.
Autor: Pe. Roni O. Fengler