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Uma guerra química entre nós
Créditos foto: Internet Full Width Post Format
Aeroaplicação causa maiores derivas e nem deveria ser permitida.
Quando um veneno é aplicado, parte cai sobre a planta ou sobre o solo e parte é deslocado em pequenas gotas pela brisa ou vento, fator que recebe a denominação de “deriva”. Muitas vezes, este deslocamento acaba atingindo o meio ambiente, animais, vizinhança, outras culturas, sem que se perceba. É como, um desvio da rota, uma bala perdida no tiroteio da guerra dos agrotóxicos contra parasitas ou inços. A deriva pode ser maior ou menor conforme as técnicas usadas na aplicação que determina o tamanho das gotas e a ocorrência e direção dos ventos. Depende se o produto é aplicado com máquina costal, trator ou avião, sendo que este último é o que impõem maiores distâncias. Porém, há diferenças também nos tipos de produtos. Alguns agrotóxicos têm deriva menor; outros ao contrário, atingem distâncias enormes.
No caso de aplicação de herbicidas (venenos para matar inços) a deriva é mais facilmente percebida. Alguns causam danos bem visíveis nas plantas dos arredores, desde capins até árvores. No Rio Grande do Sul, um fato bem noticiado foi a morte de parreirais devido à deriva do conhecido 2,4 D.
O que é 2,4 D? É um componente químico clorado usado na 2ª Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã como desfolhante de florestas. Este princípio ativo é encontrado em muitos herbicidas comerciais e usado em lavouras, especialmente na soja. Os herbicidas a base de 2,4 D têm uma grande deriva causando queimaduras na vegetação ao redor das lavouras a dezenas e até centenas de metros de distância. Isto tem causado prejuízos milionários a fruticultores no Estado.
O caso é sério. Mas como fomos chegar nesta situação? A verdade é que justamente devido aos problemas do 2,4 D ele estava sendo abandonado pelos produtores no final dos anos 90, dando lugar ao glifosato (conhecido pelo nome comercial Round Up) que não apresentava as mesmas desvantagens. Porém, com o advento da soja transgênica e, posteriormente, do milho transgênico, o glifosato passou a ser usado desmedidamente e sem cuidados. Então, o pesadelo que os ambientalistas alertaram, logo se tornou realidade: diversas espécies de inços criaram resistência e se tornaram “super-inços” não sendo possível mais controlar com o glifosato. O retorno ao uso do 2,4 D veio com força num grande retrocesso.
Os defensores do 2,4 D, em especial a FARSUL, dizem que ele pode ser usado de maneira segura. Mas diversos pesquisadores e produtores discordam com bases sólidas nas experiências de campo. E o caso chegou ao Ministério Público que instaurou inquérito civil e ouviu de diversos agricultores manifestação pela PROIBIÇÃO do 2,4 D no Estado para tentar salvar a fruticultura da falência. Hoje o problema está sendo percebido tanto nos parreirais de Caxias do Sul quanto de Dom Pedrito onde também morrem olivais; nos pomares de maçã de Vacaria quanto nos de pêssego da região de Pelotas. Um cálculo da Ibravim aponta que, por safra, o Rio Grande do Sul perde mais de R$ 100 milhões na produção de uva. E quem paga este prejuízo? É necessário um cessar-fogo!
Um projeto de Lei proibindo o 2,4 D no solo gaúcho tramita na Assembleia Legislativa desde 2014. Para dar celeridade à tramitação, parlamentares promoveram uma audiência pública com a participação de entidades como Fecovinho, Associação Gaúcha de Produtores de Maçã, Associação de Vinhos da Campanha entre outros. A conclusão foi de recomendar ao Ministério Público a imediata suspensão do uso deste agrotóxico enquanto se tenta aprovar a lei. Em busca da paz, apoiemos esta iniciativa! 
Autor: André Michel Müller